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14 de agosto de 2010

Entrevista
Evandro Pelarin
Conheça o Juiz da Vara da Infância e da Juventude de Fernandópolis
Inteligente, dedicado e sempre muito atencioso, o juiz da Vara da Infância e da Juventude de Fernandópolis, Dr. Evandro Pelarin é um dos representantes do Poder Judiciário que a cidade mais se orgulha.
Durante o período em que trabalhei em Fernandópolis, na rádio Mais FM (eita saudades...), tive o privilégio de entrevistá-lo algumas vezes e acompanhar de perto um de seus trabalhos que repercutiu em todo o país, o "Toque de recolher".
Mesmo trabalhando em outra cidade, continuei o acompanhando pela mídia. Nessas entrevistas percebi que todos conhecem o "Juiz" e desconhecem o Evandro Pelarin. Pensando nisso, sugeri uma entrevista e, prontamente, fui atendida (eba!!!). Natural de Jales/SP, Evandro Pelarin, 38, falou de sua infância, trabalho, sonhos e ideais.

– O que mais gostava de fazer na infância e adolescência?
Praticar futebol. Minha paixão.



– Como era seu relacionamento com seus pais e irmãs?
Ainda é excelente. Muito amor e cumplicidade.

– Já fez alguma “arte”, que precisou ser repreendido pelos pais?
Fiz artes sim. Meus pais sempre conversavam comigo e me repreendiam. Às vezes, duramente. Tinha o costume de chegar com as chuteiras sujas do futebol e não as lavava. Minha mãe, certa vez, depois de tanto insistir e não ser obedecida, deu-me umas cintadas. Nunca mais deixei de lavar as chuteiras e o meião de futebol.



– Como foi a escolha de sua profissão?
Nada pensado. Depois da faculdade, queria ser vendedor, como o meu pai. Mas, minha mãe mandou que eu estudasse para algum concurso. Eu a obedeci, como ainda faço hoje. Inscrevi-me para Delegado e Promotor enquanto já passava nas fases para Juiz. Tomei posse nesse cargo em março de 1997.



– Com quantos anos assumiu o cargo de Juiz? Como foi?
24 anos. Não tinha a menor ideia das possibilidades dessa profissão, da imensa liberdade que a lei brasileira concede ao juiz para decidir.



– Como reage às críticas que recebe?
Com naturalidade. Às vezes, causa-me espanto o tamanho do preconceito que alguns dos críticos revelam em relação ao Poder Judiciário e à Polícia.



– Uma das ações mais conhecidas no Brasil idealizadas por você foi o “Toque de recolher”. Como surgiu essa ideia e quais foram os benefícios dessa ação?
Formei-me em história também. Sempre me impressionei com os EUA. Estudei mais detidamente a organização social e política deles. Observei o senso de ordem e responsabilidade daquele país em relação à juventude. Lá, menor de idade tem horário e restrições salutares. Os EUA foram minha inspiração.
Quanto aos benefícios do “toque”, temos números positivos quanto à redução de menores envolvidos com drogas e bebidas alcoólicas. Também, houve diminuição sensível de crimes cometidos por adolescentes. Hoje, temos poucos menores presos na Fundação Casa (FEBEM), em relação ao passado. Ou seja, temos mais adolescentes livres, efetivamente. Livres da cadeia, livres dos crimes, livres das drogas. Isso tudo me deixa muito satisfeito.



– Muitos, principalmente os adolescentes, criticaram a medida, era esperada essa rejeição?
Sim. O Juiz não decide para agradar as pessoas, menores ou maiores. O Juiz não tem que fazer “média” com ninguém. O Juiz aplica a lei. E ao contrário do que muitos pensam, a lei brasileira é muito boa; não perfeita, evidentemente. Então, o resultado positivo de nosso trabalho é uma decorrência da aplicação da lei. Se alguns ou muitos não gostam, paciência. Mas a lei será aplicada, quer gostem ou não. Pois a lei é feita para o bem das pessoas.



– O “Toque escolar” é consequência do toque de recolher?
Não. Agora, nosso objetivo é efetivar o art. 53, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece que a permanência na escola é fundamental para assegurar o direito à educação dos menores de 18 anos. Ou seja, se o menor está fora da escola, a lei foi violada. E cabe ao Juiz não permitir que isso aconteça.



– Durante as ações, qual foi o caso que mais surpreendeu?
Não há um, em especial. No sentido que você me pergunta, é muito triste ver uma mãe chorando quando seu filho está tomado pelas drogas. Isso dói muito.



– Como é o pai Evandro Pelarin?
Difícil de responder. São meus filhos que poderão responder a essa questão.



– Qual é a sua maior preocupação com relação aos seus filhos?
Eu penso neles o dia inteiro. Quero que eles cresçam livres e aprendam a respeitar as pessoas, os idosos, principalmente. Eu e minha mulher estamos nos esforçando muito para educá-los por palavras e exemplos.



– Qual é o seu maior objetivo profissional? E pessoal?
Na profissão, espero cumprir as obrigações que levo em minha consciência, que podem ser resumidas no meu esforço em aplicar a lei brasileira, integralmente. Ainda falta um bocado. Pois, embora pareça simples, não é fácil aplicar a lei neste país. Basicamente, pela ditadura do pensamento único hoje vigente, o politicamente correto, que cada vez mais deixa claro seu preconceito contra o Poder Judiciário. Não basta vontade, portanto. Temos que planejar uma série de ações, estudar casos de outros países, aguçar a criatividade ao máximo, contraditar a todo momento esse preconceito crescente contra o Poder Judiciário. Isso dá muito trabalho.
Meu objetivo pessoal é ter saúde e paz para entrar na Igreja, um dia, levando minha filha para o altar em seu casamento. Depois desse dia, desmontarei toda minha guarda e esperarei ansiosamente meus netos. Esse é meu maior sonho.



– Qual livro está em sua cabeceira atualmente?
A Bíblia.

– Qual foi o último filme que assistiu?
Invictus, de Clint Eastwood.



– Um lugar inesquecível para você?
Gramado, RS. Um pequeno restaurante na rua principal, salvo engano, Le Chalet de La Foudue.

Dr. Evandro muitíssimo obrigada pela entrevista!!! Parabéns pelo trabalho, pela família e pelo exemplo de pessoa para nossa sociedade.

Um comentário:

  1. Parabéns pela entrevista. Sou "fã" do Dr. Evandro Pelarin. Se o Brasil tivesse mais pessoas como ele, tenho certeza que nosso país seria bem melhor. É um exemplo a ser seguido!

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